NÃO FOI UM SONHO

E lá estava você, com aquele sorriso encantador que me faz desmoronar todas as vezes que olho para ele,

O brilho do seu olhar estava um tanto diferente. Seus olhos me diziam algo que sua boca ainda não tinha dito.

Á beira lago, envolvidos pelo frio que fazia naquela noite. E que frio hein. Imagino você, suportando todo aquele gelo ao seu redor e ainda tendo que disfarçar o frio na barriga.

Nos sentamos e você prontamente iniciou uma leitura um tanto ousada, tirou do bolso um papel, uma carta para ser exata, e leu, palavra por palavra. Eu, ouvindo nossa canção, ouvindo sua voz e os olhos pouco a pouco se enchiam de lágrimas.

Me contive até onde pude, mesmo enfrentando aquela mistura de emoção, amor e frio.

Continuou sua declaração em pé e me conduziu pela calçada como quem nada quer.

Num piscar de olhos você roubou uma rosa branca de um rapaz que passava ao nosso lado. Ao me entregar seu furto forjado me disse: Essa rosa branca significa que sou digno de você. (ou algo assim, eu estava espantada demais para lembrar das suas palavras com tamanha precisão).

Logo em seguida passou uma moça, empacotada com roupas de frio. Ela carregava uma rosa salmão claro, então você pegou a rosa dela também e me lembrou que no passado me deu uma rosa muito parecida com aquela e essa foi a que mais viveu, entre todas as rosas que tinha me dado até aquele exato momento.

De repente apareceu um buquê em suas mãos e logo estavam nas minhas, acompanhadas de algumas poucas palavras: o amor pra mim é dessa cor, essa foi a mensagem que captei.

Não acreditei quando vi você ajoelhar, olhando em meus olhos, talvez eu tenha te visto tremer ou eu quem estava tremendo, não sei ao certo.

Não consegui mais conter a enxurrada que estava se formando em meu olhar. E aquele frio que eu sentia, sumiu rapidamente e então as borboletas congeladas em meu estômago logo começaram a voar.

Três palavras foram ditas: QUER CASAR COMIGO?

OMG! Ele me pediu em casamento. (pensei).

SIIIM, eu disse. Um sim que mais pareceu um gatinho miando.

Lágrimas escorriam de meus olhos e desaguavam em meu sorriso. Enquanto você estava com o anel de noivado estendido em minha direção e eu olhando fixadamente para você, tentando eternizar aquele momento em minha memória.

Acordei!

E pela primeira vez soube que não se tratava de um sonho, mas sim de uma linda lembrança vivida na noite anterior.

Relatos Internos

Não havia nela um único pensamento pontual.
Estava tudo tão bagunçado que acabou virando uma obra de arte abstrata.
Não soube como proceder com a enxurrada de questionamentos que gritava em seu interior.
Era grata pela vida, mas não se achava merecedora de muita coisa.
Alias, nem de poucas coisas.
Nunca soube ao certo o que se era, e por não se conhecer, não pode fazer muito por si mesma.
Os outros enxergavam além dela, com outros olhos, outros jeitos e manias.
Ela enxergava o mundo lá fora, mas aqui dentro era só melancolia.
Não incomodar ninguém, era seu lema.
Mas dentro de seu peito gritava um poema, este escondido no fundo de um baú, perdido no oceano das lágrimas que não chorou.
Uma represa que se manteve intacta todas as manhãs e em algumas madrugadas explodia.
Ouviu dizer que deveria ser sol para os outros. Mas ela gostava de dias nublados.
Não entendia a associação do cinza à tristeza, pois para ela o céu ficava mais bonito em tempos de chuva.
Não havia nem sequer um pensamento pontual.
Mas havia beleza em seu olhar.

SOBRE SER MULHER

Quem disse que toda mulher deve ser flor?
Algumas desejam ser raízes, outras ramos, e talvez folhas.
Não precisa ser planta. Mulher pode ser pássaro, pode ser barco e se preferir, que seja praia.
Mulher quer andar como quiser e não ser assediada por usar minissaia.
Mulher não quer só atenção. Quer respeito, quer credibilidade, quer ser o que quiser.
Mulher não é feita de afazeres, não tem que cumprir com seus "deveres" para te agradar.
Mulher tem sonhos, tem garra, tem força e determinação.
Por isso eu digo e repito: Mulher não quer só chamar atenção.

PRA ONDE ELA FOI?

Um poço de mistério.
Pessoa de poucos amigos.
De poucos colegas.
De pouca gente.
Se enturmar não era o seu forte, disso todos sabiam.
Mas, era um ser de muito amor.
De muito querer.
De muitos universos.
De muitas escritas.
Não era de se envolver.
Era de mergulhar.
Gostava de profundezas,
Carregava poesia dentro de si.
Esbanjava histórias mentais.
No fim, ninguém a conhecia.
Nem ela mesma.

FARRAPO HUMANO

Perdeu a fé na vida, perdeu a crença nos homens.
Não tem amigos, não tem ninguém.
Seu quarto é seu refúgio e sua mente um furacão.
Apesar de pensar bastante, no fim não há pensamento algum.
Que alegria duradoura é essa que lhe prometeram?
Ela tem apenas bons momentos, alguns em que rir como criança e outros que sorrir como um adulto.
Mas por dentro não sabe o que é o riso.
Nessa noite dormiu inundada, afogada em sua própria tristeza.
Nessa noite choveu, mais foi do lado de dentro.

HIPOTECOU-SE

Trocou seus sonhos por uma dura realidade.
Não havia riso.
Nem choro.
Nem nada.
Não sabe em que lugar se perdeu.
Não soube procurar.
Seu jeito silencioso de suportar sua dor sozinha, só aumentava a fortaleza que a mantinha intocável.
Seus olhos arregalados, escondiam toda angustia e ansiedade que viviam em sua alma.
Empenhou seus contos encantados, por contos de meia tigela.
Penhorou a vida que queria ter, pela quase vida que leva.

TINHA TUDO PARA SER

Dizem que tinha tudo para ser a maior história de amor, só faltou a cortesia, a gentileza, o carinho e o olhar.
Tinha tudo para ser a melhor história de amor, só faltou o cheiro, o sabor, a entrega, o aconchego e o calor.
Poderia ter sido tudo, menos o que realmente foi.
Aliás, o que foi?
Qual história vou contar, os contos encantados que criei sobre nós ou os fatos mesquinhos que disseminou em nossa história?
Dizem que tinha tudo para ser a maior história de amor, mas não foi.
Foi desalento, desencanto e tormento.
Foi insonia, agonia e vento.
Foi tudo, menos o que deveria ter sido.
Tinha tudo para ser a maior história de amor...
Só não tinha o amor.